Voltar para Voz da Torcida

Pés no chão nas finanças do Furacão

Será que vale a pena tantos gastos com elencos?

O futebol mundial está dividido em duas partes. A parte milionária, que dispõe de muito dinheiro para times formidáveis e a dura realidade daqueles que sobrevivem com o que “tem”.

De um lado temos os clubes pequenos que se arrastam e vivem de verbas oriundas da mídia, cotas de TV, propagandas e outras formas de angariar receitas para cobrir custos. De outro lado os clubes que pertencem a “donos” hiper milionários e que injetam uma saúde financeira invejável a ponto de poder comprar todo e qualquer elenco num piscar de olhos. Claro que ao menos, a maioria dos campeonatos pelo mundo premia seus clubes por produção, assim possibilita que os clubes menores financeiramente, tenham uma chance de conquistar mais receitas podendo com isso investir em times melhores na temporada seguinte.

O futebol brasileiro não é exceção, só que aqui há um diferencial negativo, a produção no campeonato não conta para a distribuição dos valores de cotas e direitos de TV. No Brasil existe a suposição das maiores torcidas, por mais que se diga que esse ou aquele clube possui torcida mais numerosa, nenhum veículo de comunicação ou de pesquisa conseguiu efetivamente comprovar tal “realidade” e que serve de referência para aqueles que distribuem as verbas. Ou seja, nos deparamos com uma divisão injusta, baseada em números fictícios e sem a mínima credibilidade. Tanto faz um clube ser campeão ou terminar o campeonato em último, receberá o mesmo valor de cotas. Injusto e totalmente imoral baseados em números não comprovados de sua massa torcedora.

Assisti a entrevista de Arsène Wenger, técnico do inglês Arsenal, onde foi questionado sobre Neymar no PSG e as diversas contratações dos clubes europeus, incluindo clubes ingleses e em sua resposta foi incisivo: “Temos que manter os pés no chão, nossa realidade é outra, temos que fazer o melhor que pudermos com o que temos”.

Claro que lembrei do nosso Clube Atlético Paranaense, que faz das tripas coração para manter um bom elenco e brigar por algo no topo da tabela, sendo sempre um concorrente indigesto para a turma milionária.

A partir do momento que o representante de um clube de renome internacional, campeoníssimo, referência em títulos, organização, dinheiro e outros quesitos mais, diz que necessita manter os pés no chão e se limitar ao que financeiramente pode fazer, fico pensando no quanto nossa torcida cobra o clube diante da imensa desigualdade financeira anual do futebol brasileiro.

Obs.: Os cálculos abaixo não levam em conta eventuais sonegações, ou seja, considero que os clubes pagam todas as suas contas corretamente.

Nos últimos dias pudemos observar que nem todo o dinheiro aplicado no futebol é garantia de resultados e títulos. O Flamengo por exemplo, gasta mensalmente 10 milhões mensais só com salários. Acrescidos de férias, 13º e outros impostos, anualmente os valores podem chegar aos 170 milhões que é exatamente o valor das cotas de TV pagos ao clube. Coincidência? Esse milionário Flamengo perdeu em seu estádio a partida contra o modesto financeiramente Vitória. Só que o clube carioca faturou em receitas com todos os Direitos de TV em 2016 mais 127 milhões perfazendo um total de 297 milhões, ou seja, sobra dinheiro para se aplicar em elenco e outras coisas mais.

E o Palmeiras? Sua folha salarial gira em torno de 12 a 15 milhões mensais e fazendo uma média nessa conta, anualmente o clube desembolsa algo em torno de 240 milhões incluindo todos os custos salariais e impostos. Acontece que o Palmeiras recebe de cotas 100 milhões anuais e em 2016 recebeu mais 28 milhões de outros Direitos de TV, num total de quase 130 milhões. Acrescente o fato do Palmeiras ter uma parceria comercial de peso que aplica de forma severa substancialmente no clube valores significativos, proporcionando a contratação e a manutenção de um elenco milionário. Esse mesmo Palmeiras foi derrotado em casa pelo Atlético Paranaense, não chegou a final do paulistão, foi eliminado da Copa do Brasil e agora da Libertadores e hipoteticamente falando, não tem chances alguma de título mais no Brasileirão, ou seja, passará o ano “ZERADO“ de conquistas.

O clube paulista já sinaliza para problemas financeiros, desistiu de eventos em seu estádio, desistiu de buscar recursos por acreditar que estaria no caminho das grandes vitórias e agora clube e patrocinador contam os imensos prejuízos acumulados.

O São Paulo, onde a saúde financeira é invejável e que também aplica em elencos milionários, recebeu em 2016, 110 milhões de cotas mais um adicional de Direitos de TV na ordem de 20 milhões e tem uma folha mensal de 8 milhões. O São Paulo no momento, briga para não ser rebaixado e não ganha títulos há 10 anos.

O Atlético Mineiro que paga uma folha salarial de 9 milhões, semelhante a Corinthians e Flamengo, os cálculos não são diferentes. O Galo foi eliminado da Copa do Brasil e da Libertadores e no Brasileirão briga para não cair.

E o Atlético Paranaense? Muitos me perguntam sobre salários, os quais não tenho o menor conhecimento, mas vamos fazer um prognóstico ilusório, vamos fazer de conta que temos os números, vamos supor que o clube gaste 2,5 milhões mensais com sua folha. Em meus cálculos chegaríamos ao valor de 46 milhões entre salários, férias 13º e impostos. Só que o clube recebe de cotas apenas 35 milhões e em 2016 somados outros direitos de TV o clube recebeu 55 milhões.
Claro que nesses valores não estão inclusos, luvas, direitos econômicos, manutenção de CT, estádio, funcionários, hospedagens, deslocamentos, alimentação, luz, água, telefone, multas recebidas dos órgãos máximos do futebol brasileiro durante as competições, financiamentos, multas rescisórias e outros gastos adicionais.

Em 2016 o Atlético chegou a 90 milhões gastos em futebol.

Por toda essa análise que exponho aqui, acho relevante o torcedor pensar sobre o que disse Wenger quando frisou em manter os “pés no chão”. O Clube Atlético Paranaense vem alcançando ótimos resultados em campo se levarmos em consideração o desequilíbrio financeiro do futebol brasileiro. No campeonato financeiro o clube foi apenas o 17º colocado em 2016 em Direitos de TV. Em contrapartida foi a sexta melhor equipe do campeonato do mesmo ano e ainda por cima conquistou o direito de jogar a Libertadores 2017. O ano de 2017 não tem sido diferente, e o clube tem buscado fazer milagres em campo com o que recebe fora dele.

Eis que entra em cena o poder administrativo, que com muita perspicácia e trabalho consegue gerar receitas adicionais para manter toda a estrutura e a competitividade de seus elencos perante clubes com fôlego financeiro invejável. Optar por loucuras em elencos caros pode colocar o clube à deriva, sendo que jamais serão garantias totais de títulos.

Vale a reflexão de que às vezes menos pode significar mais!
Manter os pés no chão garantem a continuidade de um trabalho e a esperança para que em um ano posterior possa se alcançar as tão almejadas conquistas.

Comentários

JOSE LUIZ TOLENTINO
7 anos

Excluir
Pertinente o comentário do Robson, nosso Atlético tem mostrado ao longo dos anos que o ditado "manter os pés no chão" é o caminho certo. Sem jogadores milionários, caros, estrelas é possível sim alcançar resultados muito bons. O que precisa realmente acontecer de mudança é na instituição falida, corrupta CBF. Critérios de distribuição de renda por desempenho dos clubes nos últimos 5 ou 10 anos, participações em competições nacionais e internacionais, folha de pagamento em dia, impostos idem. Assim podemos tirar o joio do trigo, pois do jeito que está é um balde de água fria nas gestões sérias. SRN PS.: Não assisti ao jogo ontem na Vila Belmiro, mas pelos comentários soube que nosso Furacão dominou o jogo, ou seja, provamos que temos um time bom competitivamente e quando quer vai atrás dos objetivos. Espero que daqui para frente possamos fazer um segundo turno muito bom e conquistar a vaga à Libertadores 2018.

Skip to content