5 anos
A Espanholização sob o Fracasso do Culturalismo. “Se você deseja conquistar uma nação, comece dividindo seu povo.” Já não importa quem escreveu isso, e minha falta de memória não permite dar créditos ao autor. Talvez tenha sido Sun Tzu. Ou não. Portanto, em tempos maniqueístas de apartheid social, colocados devida e voluntariamente em nossos polos, assistimos as desigualdades sociais ficarem a cada sufrágio mais evidentes. Engana-se aquele que, em relação a um determinado fenômeno social, considera-o limitado a alguns setores da sociedade, sem atribuí-lo caráter hegemônico, integral, totalizante. Trato aqui, da desigualdade social. Sim, em voga o sistema classista, entre opressores e dominados, dominantes e oprimidos. Num país que se permitiu chegar nesse ponto, há de se reconhecer que tal desigualdade alcança também o esporte, em especial o Futebol. Não obstante já venha acontecendo há tempos, hoje se exponencializa. As relações obscuras entre entidades envolvidas e a lei, seja a Maior ou a infraordinária, bem como as estatutárias e principalmente as contratuais, continuam deliberadamente a enfraquecer esse esporte, por mais paradoxal que pareça aos olhos dos favorecidos. Claro que esse “sistema” não se sustentaria sem o apoio da mídia esportiva, defensora e propagadora dos interesses comerciais e políticos de seus anunciantes, leia-se investidores. Não estão agindo em prol do esporte, mas sim visando a audiência, fazendo valer o paradigma do tamanho (clubes grandes x clubes pequenos), referência ou critério absurdamente excludente para pautar sua função comunicadora social, se é que se pode chamar assim. Perguntei para um ícone do jornalismo se o amor que a torcida do Papão sente pelo Payssandu, era maior ou menos que a urubuzada sente pelo Flamengo. Sem resposta, pois não há resposta, não há argumentos, nunca existirão respostas nem argumentos para tudo aquilo que for na contramão da evolução da sociedade, da libertação de um povo, de sua emancipação. Prevalece o silêncio, mas não é um silêncio fruto de conscientização, é sobretudo passional, como aquele que vê a esposa sendo mal educada no trato pessoal com uma impossível amante, sua apenas colega de trabalho: ele cala e ponto final. Esse doutrinamento midiático é uma das mais velhas formas de controle social, dirigindo e manipulando mentes ingênuas e acríticas, nada reflexivas, passivas ao extremo. Fale apenas de A e B, que A e B serão consideradas as únicas letras do alfabeto. Não se incomode em formas palavras: eles não querem ouvi-lo, por isso não há espaço para o povo de PR, SC, centro-oeste, norte e nordeste. Portanto, a dimensão dos espaços estruturais indicados por Boaventura, se apequena, seja por omissão, ingerência ou simples reprodução dos detentores do poder, fazendo com que o mercado se sobreponha à cidadania: a razão é mesmo indolente. E o culturalismo, essa espécie de justificativa capaz até de relativizar costumes de povos que cometem atrocidades contra direitos humanos, aparece no céu do desconhecimento não em sua versão clássica mundial, mas no modo racista, no sentido de que os hábitos se concretizam ao longo do tempo promovendo, ao sul do equador, a segregação geográfica dentro de uma mesma nação. Dominados PR, SC, centro-oeste, norte e nordeste, somos uma variante do racismo científico/étnico. Leia mais em Jessé Souza. Afinando a contextualização, assistimos perplexos neste início de 2019 uma progressão significativa dessas diferenças, no tangente ao volume de investimento dos clubes de futebol e suas respectivas receitas, proporcionalmente à situação geográfica em que se eles encontram. A mídia “esportiva” tem um papel fundamental na supervalorização de boleiros, elegendo como se fosse expert, os queridinhos da hora, em sua maioria, meros jogadores, jamais craques de Futebol. Assim nasceram Wagner Love e Oscar, e continuam parindo a fórceps os Paquetás e os Dudus da vida. A capacidade alquimista dos jornalistas da bola é de fazer de Paulo Coelho um simples ilusionário. Assim, são negociados no mercado internacional, tais atletas com status de heróis, provocando transações multimilionárias tornando o negócio, uma atividade surreal, aparentemente lícita, mas substancialmente imoral, quando se reporta às outras necessidades das populações mundo afora. Lavagem de dinheiro? Pense como quiser. Não bastasse o suporte midiático, a corrente televisiva detentora dos direitos de transmissão aloca dezenas de percentuais a mais para as ditas principais agremiações, restando a uma terceira, um patrocinador de peso. Imaginar o retorno que uma empresa teria em investir R$80 milhões por ano... repergunto como no fim do parágrafo anterior. Sempre em detrimento dos demais, a notícia é o mercado dos grandes, e suas loucuras financeiras. Será que não pensam naquela coisa chamada competitividade? Por que razão não há limites de salário ou contratação de um jogador? Quem ganha com isso? A torcida? Boleiros caríssimos são garantia de títulos dos campeonatos? Qual o clima nos vestiários de um atleta da base que joga mais que um famoso, ganhando 200 vezes menos que ele, e não é escalado por causa do mercado? As perguntas vão muito além da prorrogação. Então o clube A diminuiu em um ou dois mandatos suas dívidas tributárias e trabalhistas para R$454,6 milhões de reais, fato que lhe autoriza a pagar R$1.250.00,00 por mês para determinado jogador. Ah, mas não houve custo, está embutido no salário. Explica-se? O que acha o goleiro reserva que ganha 50 mil? Para um time que nem estádio próprio tem. Sabemos que os valores foram invertidos. Ou melhor: há inversão de valores. Só se fala em Flamengo e Palmeiras. Corinthians por fora. Um círculo vicioso de noticiário excludente, tal qual eram televisionados na década de 70, apenas os jogos de Rio e São Paulo, para o Brasil todo. Pessoas de outros estados nasceram assistindo isso. Tiveram descendentes. Todos ignorando até a existência dos times locais. Verdadeira alienação interna. Mas o livre-arbítrio atesta escolhas, mesmo com a ausência de critérios, jus solis e tais. A partir desse ano, Flamengo, Palmeiras e Corinthians farão do Brasil uma Espanha do hemisfério sul, onde apenas três equipes terão condições de levantar os canecos. Seja pelo suporte midiático, seja pelo patrocínio desvairado, seja pela influência nas entidades esportivas, suas federações e arbitragens. Sim, os três são os novos e exclusivos dominantes. Corremos por fora, paranaenses excluídos, com apenas um só representante, não partícipe do sistema. A duras penas e sem o dinheiro que desproporcionalmente favorece os poderosos com seu exército da comunicação. Esta que atua sem produzir qualquer espécie de conhecimento, mas principalmente reproduzindo e ampliando as forças de poder. Isso explica a ausência de reconhecimento por parte da mídia, no CAP como instituição honesta e inovadora. A tendência, caso nada se faça contra – como a criação da liga nacional, por exemplo – é a falência dos clubes injustiçados, mais desemprego de milhares de pessoas dependentes dessa atividade, e um troca-troca entre os três no pódio dos campeonatos, marginalizando o lazer de toda a população que não torcer para eles. O campeonato brasileiro reduzirá paulatinamente o número de participantes, acabando com 10 ou 8. Fim da competitividade, fim do entretenimento, fim da paixão nacional. Aproveitemos enquanto não soarem as castanholas. Aproveitemos enquanto houver sol. Enquanto houver vento...