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Cocito: ‘Aquela equipe era diferenciada’

Quando se fala no título de Campeão Brasileiro em 2001, um dos principais nomes que vem à cabeça do torcedor atleticano é de Thiago Cocito. Ele não marcou nenhum gol na competição, mas esteve presente em 24 dos 31 jogos do time no campeonato, deixando sempre como marca registrada a vontade extrema em cada partida. Não à toa, para o torcedor ficou conhecido como o “Rei da Raça”. “O grupo tinha uma confiança total, a gente sempre dizia que para ganhar da gente os outros (adversários) teriam que suar sangue mais do que nós. A gente sabia que tinha que correr até sair sangue do ouvido, até cair duro no chão. E era com esse espírito que todos encaravam, com confiança, com alegria e muita responsabilidade”, relembra o jogador, dez anos após a conquista histórica.

Para Cocito, o senso de dedicação de todos do grupo foi uma espécie de marca registrada da equipe campeã brasileira. “Em todos os momentos, mesmo nas conversas mais de brincadeira, a gente sempre falava do próximo adversário, da maneira de jogar. Esse papel não ficava só para o treinador. Porque ali dentro do campo quem decide somos nós e a gente conversava muito. Não é em todas as equipes, não são todos os jogadores que fazem isso. No Atlético daquele ano era sempre assim. Aquela, com certeza, era uma equipe diferenciada”, lembra o jogador.

Confira a entrevista exclusiva com Thiago Cocito, o “Rei da Raça” do time Campeão Brasileiro de 2001:

– Como foram as semanas da decisão, nos jogos contra São Paulo, Fluminense e São Caetano?
Cocito –
O clima era o melhor possível. A partir do meio da competição fomos tendo a cada dia mais confiança e a sensação entre a gente de que só perderíamos para nós mesmos. Nós tínhamos muita confiança, mesmo os jogadores que não jogavam, estavam todos concentrados, sabiam todos o que tinha que fazer nos momentos de substituir. Aconteceram várias vezes dos jogadores que estavam no banco de reservas entrarem no jogo e serem mais importantes efetivamente do que os que já estavam no jogo desde o começo. Essa confiança era muito grande, era um grupo com muita alegria, todos os jogadores brincavam um com o outro. Às vezes, era lógico, há uma identificação maior de um com o outro, mas na hora do vamos ver a gente se unia, todos participavam da mesma conversa. Em todos os momentos, mesmo nas conversas mais de brincadeira, a gente sempre falava do próximo adversário, da maneira de jogar. Esse papel não ficava só para o treinador. Porque ali dentro do campo quem decide somos nós e a gente conversava muito. Não é em todas as equipes, não são todos os jogadores que fazem isso. No Atlético daquele ano era sempre assim. Aquela, com certeza, era uma equipe diferenciada. Então entramos nas semanas decisivas nesse mesmo espírito, com muito bate-papo. O grupo tinha uma confiança total, a gente sempre dizia que para ganhar da gente os outros (adversários) teriam que suar sangue mais do que nós. A gente sabia que tinha que correr até sair sangue do ouvido, até cair duro no chão. E era com esse espírito que todos encaravam, com confiança, com alegria e muita responsabilidade

– Você tinha alguma superstição, alguma mania que gostava de realizar antes dos jogos?
Eu jogava todo jogo com a mesma sunga. Nem treinava com ela, era só para o jogo. Eu acho que a superstição é mais uma maneira de dar uma aliviada na tensão. Mas até a final foi com a mesma sunga (risos).

– No jogo contra o São Paulo, teve aquele famoso lance com o Kaká. Como foi o lance, você lembra o que aconteceu?
Lembro, o Kaká recebeu a bola no meio campo, era um dia chuvoso, o campo estava bastante escorregadio, e na hora que ele dominou a bola ela escapou um pouco, saiu de mim também e eu escorreguei, puxei ele, e eu cai trançando a perna para já levantar. Segundo consta ele estava com uma dorzinha no tornozelo e eu acabei acertando justo esse tornozelo. Não foi uma entrada desleal, uma entrada por trás, maldosa, isso de maneira nenhuma eu faria. Eu nunca entrei em jogo nenhum com uma coisa premeditada, nunca com intenção de machucar. A conotação toda era porque eu estava tirando do jogo o queridinho do Brasil e ele saiu chorando, então criou todo um clima como se eu fosse o malvadão e ele o bonzinho. Mas não foi nada disso, ele mesmo me inocentou no lance, tivemos alguns bate-papos na imprensa, não foi nenhum lance anormal, tanto que nem cartão amarelo eu levei. Mas para a imprensa não, a cada jogo eles lembravam disso, sempre com uma conotação maldosa.

– Depois daquilo, você passou a ser apontado como um atleta violento. Isso te incomodava?
Me incomodava. A torcida (atleticana) já sabia da minha raça desde que eu comecei a jogar aqui. Sabiam da minha raça, da minha vontade em campo, eu podia nem estar tão bem tecnicamente, mas nunca faltou vontade de correr. Mas a imprensa não, começaram a fazer brincadeira com meu nome, chamando de Coicito, de coice, eu apelei algumas vezes, briguei com a imprensa, porque sabia que era uma inverdade. E quem mais sofria com isso era a minha família, porque Cocito é o meu sobrenome, eu tenho pai, mãe, filhos, esposa… todos sentiam e ficavam chateados com isso.

– Tem algum lance, ou algum fato em especial que te remeta à conquista de 2001?
O lance do campeonato para mim foi na semifinal, contra o Fluminense. Na final, contra o São Caetano, salvei uma bola em cima da linha, de cabeça. Mas o meu lance no campeonato foi na semifinal. Já eram passados 30 minutos do segundo tempo, o placar estava 2 a 2, o jogador Andjel, do Fluminense, recebeu a bola, cruzou, o Nem subiu de cabeça, deu uma casquinha, e eu vim na cobertura. A bola estava quase entrando na pequena área, sobrando para o Roni. A bola veio quicando, ele estava só esperando ela baixar e eu me atirei na jogada, com muito cuidado para não fazer o pênalti, mas dei certinho na bola e consegui limpar a jogada. Acho que esse lance é importante porque se a gente toma o 3 a 2 ali teríamos 10 minutos para reverter o resultado.

– E depois do título, em que momento caiu a ficha que você era, naquele momento, parte do time campeão brasileiro?
Não foi muito em seguida não. No dia seguinte fui para o Guarujá passar o fim-de-ano com minha família e todo mundo parava na rua, a gente nem conseguia andar. Com o passar do tempo, aos pouqinhos, foi caindo a ficha de um feito inimaginável ainda mais pelo Atlético Paranaense, não que seja uma equipe pequena, depois que a gente foi campeão todo mundo entendeu o porquê, com a estrutura que o clube oferece. Mas antes do título o Atlético não tinha uma grande visibilidade em termos nacionais.

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