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Entenda seus erros e acertos para recomeçar


Não perca o rebolado diante das surpresas da vida
Foto: Manuel Nogueira

Quando o ano acaba, vem uma sensação de alívio. Mas bate a ansiedade do que está por vir. Pesa-se o que deu e o que não deu certo. Lembra-se do que ainda não se conquistou… É fato. Embora cada dia seja precioso, é nessa virada que refletimos melhor sobre o sentido da vida. Também vem à tona a sensação de finitude. "Cada ano é um a menos de vida e um a mais vivido. Isso nos remete a todas as nossas metas e ao limite da existência", diz o psicólogo Carlos Alberto de Oliveira Carvalho.

No dia da virada, porém, o peso dos planos que saíram meio tortos – ou nem saíram – e das situações chatas é sublimado pelas boas expectativas. Já dizia o poeta Mário Quintana: "Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano / Vive uma louca chamada Esperança". Trocando em miúdos, é preciso deixar-se embalar pela vida, adequando-se ao seu ritmo, a cada instante. Porque as surpresas vêm. E se você (ainda) não sabe, a vida é feita delas.

Quando a vida toma um novo – e inesperado – rumo, temos duas opções: bater com a cabeça na parede e perguntar "por que comigo?" ou encarar a situação de frente e dar sentido a ela. Ninguém está livre do perrengue. "Cada situação pede para que se pense no que é preciso mudar em si para atender à demanda externa. É como se regenerar".

Futuro distante

Quando não nos prendemos ao passado, insistimos em projetar felicidade, bem estar e conquistas profissionais a um futuro bem distante. E o chavão "ano novo, vida nova" deixa a desejar, já que a vida está sempre aquém do que se quer. Não agimos assim à toa. Desde bebês, somos constantemente influenciados por convicções sociais lançadas por pais, amigos e colegas de escola. Claro que não é fácil romper com esses valores e crenças. Mas avaliar o que motiva de fato a celebração de um novo ano pode ser um meio de dar um baile na mesmice perigosa que ronda nossas vidas. "Todo recomeço exige um olhar interno para o que quero e acredito, o que gero dentro e fora de mim e quem decide sobre minha vida?, explica a psicóloga Regina Nanô.

Custou para que a paulistana Paula Andrea Stäger, de 31 anos, entendesse que o que buscava não estava nem em um futuro distante, nem nos anseios da família. A cada novo emprego em São Paulo, ficava mais triste. Em busca da cidade ideal, traçou quatro rotas no mapa do Brasil, pesquisou sobre condições climáticas, qualidade de vida e oferta de emprego e rumou ao Nordeste e Norte. Em dois meses, fixou-se em Manaus. Em dois anos, cursou pós-graduação, foi contratada como engenheira de segurança do trabalho, comprou um apartamento e visita a família duas vezes ao ano.

Nós, mutantes

A história de Paula mostra que a vida está onde pulsa. E nem sempre esse pulsar está onde prevíamos ou imaginávamos. Resultados no trabalho, planos do casamento, roteiros de viagens… Tudo se transforma ao mesmo tempo que nós, humanos. Uma amiga disse: "Aceite o fluxo. Hoje você pode ser rio, amanhã fundir-se ao mar e, depois, virar chuva". É bem por aí. Ninguém se dá conta do que é e de como é até que passe pela situação. E somos testados em cada (aparente) vão momento.

Cabe a nós percebermos e abraçarmos as oportunidades que aparecem – mesmo que muitas vezes elas estejam fora daquele esquema que programamos. O ser humano é movido pelo dinamismo. Para o psicoterapeuta e escritor Flávio Gikovate, evitar mudanças por não suportar períodos de dúvida e incerteza é ficar fadado ao atraso. O maior desafio é envelhecer fisicamente ao mesmo tempo em que se renova.

Saber compartilhar

A convivência das festas de Ano Novo incita a percepção de que "por meio do encontro, nós nos reconhecemos vivos uns nos outros", diz Carvalho. Para o psicólogo, o segredo está em "perceber o ser humano como um agente transformador, um elo que ajuda a sustentar o todo", explica. Não se trata de assumir uma causa por amigos e conhecidos, mas de estar disponível para dedicar-se a pessoas ou lugares com os quais não se tem um relacionamento íntimo. Doar-se, mas sem perder o senso crítico. Cada um de nós pode contribuir para o bem-estar do aqui e agora. Se a vida surpreende, nós podemos nos surpreender ainda mais com o que somos capazes de fazer para vivê-la bem. A partir de agora.

Fonte: www.mdemulher.com.br

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