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Atacante na infância, Weverton se destaca na meta atleticana e quer fazer história no Furacão
Quando criança, nas ruas e nos campos do Acre, Weverton tinha um sonho bem diferente da atual realidade. O prazer do jogador, nascido em Rio Branco (AC), era marcar gols. Era atacante na "escolinha" em que jogava na capital acreana. A "carreira" começou a mudar em um domingo de manhã, quando o goleiro do seu time não apareceu para jogar.
Solícito, Weverton foi para o gol e cobriu a ausência do amigo com maestria. O prazer de marcar gols começava a mudar para a alegria de evitar os dos adversários. Representantes da Recriança [entidade sem fins lucrativos com visão social e esportiva] assistiram à partida e gostaram da atuação do novato goleiro. Weverton aceitou um convite da escola e começou a treinar na nova posição. Em pouco tempo, foi contratado para integrar as categorias de formação do Juventus, clube profissional do Acre.
Destaque na nova equipe e decidido a ser goleiro, Weverton chamou a atenção do Corinthians. Com apenas 17 anos, deixou Rio Branco [com pouco mais de 300 mil habitantes], para morar na metrópole São Paulo, de 11,3 milhões de habitantes. A distância da família e a grande diferença de vida entre as cidades assustaram no início.
"Eu tinha o sonho de ser jogador de futebol. Era todo animado e empolgado para isso. Mas quando cheguei lá [São Paulo], vi que a realidade não era tão fácil. Eu queria desistir e ir embora. Liguei inclusive para a minha família. Mas eles me convenceram que era a oportunidade da minha vida", relembra o goleiro atleticano.
E a chance foi bem aproveitada por Weverton, que disputou alguns campeonatos na equipe de juniores do Corinthians e chegou ao elenco profissional do time paulista. Sem oportunidades, o jogador resolveu "dar um passo atrás" para poder jogar. Passou por equipes como Oeste (SP), América (RN) e Botafogo (SP) até chegar à Portuguesa (SP), onde foi campeão do Brasileiro da Série B.
Destaque no time paulista, não pensou duas vezes quando recebeu a proposta do Atlético Paranaense, em 2012. O jogador chegou ao CT do Caju para disputar novamente a Segunda Divisão. "Quando eu tomei a decisão de vir para o Atlético, muita gente me questionou. Achavam que, por eu já ter passado por isso, era a hora de eu desfrutar da Primeira Divisão. Mas eu sabia que era passageiro, porque o Atlético não é time de Série B", destaca.
Em pouco tempo, virou titular da equipe rubro-negra e peça fundamental na conquista do acesso à Primeira Divisão. A melhor fase foi iniciada em 2013, quando ajudou a equipe a chegar à final da Copa do Brasil e a terceira colocação do Campeonato Brasileiro, e continua nesta temporada. Cogitado para a Seleção Brasileira, o goleiro não esconde o sonho de representar o país, comemora o bom momento, mas acredita que sua melhor fase ainda está por vir.
Morando a mais de 3.500 quilômetros de sua cidade natal, Weverton trouxe um pouco de Rio Branco para Curitiba. Atualmente, o goleiro rubro-negro reside com a mãe e cinco sobrinhos. Além do carinho diário, a escolha visa a educação da família. "É uma oportunidade para eles terem um futuro melhor, em relação a escolas e ao conhecer pessoas diferentes. Eles 'dão trabalho', mas tem valido a pena, porque o ensino aqui é muito bom", afirma.
Com contrato renovado até maio de 2017 e cada vez mais adaptado ao clube e à cidade, Weverton quer fazer história. Um dos principais líderes do atual elenco, o goleiro agradece a confiança do Atlético Paranaense, dos jogadores e também da torcida. Confira a entrevista completa com o paredão atleticano, feita pelo Site Oficial:
Site Oficial: Como foi o início no Acre e quando viu que queria mesmo seguir a carreira de jogador de futebol?
Weverton: Quando eu saí de casa, em 2005, vi que a coisa tinha começado a ficar séria. Quando você joga na cidade, sonha, mas a realidade é bem diferente. Estava sempre perto da família. Quando larguei tudo para correr atrás de um sonho, vi que iria viver daquilo. De 2005 para cá, eu comecei a colocar na minha cabeça que precisava viver disso e graças a Deus só tem acontecido coisas boas na minha vida. Sou feliz e grato por tudo que Deus tem feito na minha vida, como profissional e como homem. Mas só estou na metade, tem muita coisa para acontecer daqui para frente.
Site: Você sempre teve o desejo de ser goleiro ou era jogador de linha?
Weverton: Quando eu comecei a jogar futebol, eu era atacante. Joguei uns três anos e fazia muitos gols. Mas um dia fui jogar meu primeiro torneio na "escolinha" e, como o jogo era cedo, o goleiro não apareceu. Eu resolvi ir para o gol. É destino mesmo. Joguei muito bem e um pessoal de uma outra escolinha me chamou para jogar lá. Era a Recriança, que formava jogadores e tinha uma estrutura melhor. Peguei minha bicicleta e fui. Depois disso, recebi convite do Juventus, que já era um profissional e tinha todas as categorias, e não saí mais do gol.
Site: A fase mais difícil da sua carreira foi quando chegou ao Corinthians?
Weverton: Tinha um sonho de ser jogador de futebol e era todo animado e empolgado para isso. Mas quando cheguei lá [São Paulo], vi que a realidade não era fácil. Estava longe da família e dos amigos. Cheguei de uma cidade que as pessoas nunca tinham ouvido falar. Então, já tinha o preconceito automático, por eu ser do Acre. Eu queria desistir, ir embora, liguei para a minha família, mas eles me convenceram que era a oportunidade da minha vida. Adaptei-me aos poucos. Foi um momento difícil de sair de casa, largar a família, sem amigos e sem muitos recursos. Mas valeu a pena.
Site: Em suas postagens nas mídias sociais, podemos ver o tempo todo que está ao lado da sua família. O que representa isso para você?
Weverton: Procuro sempre estar perto deles. Minha mãe é evangélica e sempre ora por todos nós. Sempre falei para eles que iria carregá-los onde eu fosse. Muita gente acha que tem a obrigação de carregar pai e mãe, mas eu quero todo mundo perto de mim. Trato meus sobrinhos como se fossem meus filhos. É por todos eles [familiares] que faço o meu melhor. Eles me dão muito apoio. Todos tinham time de coração e hoje eles torcem para o time onde eu estou. Ter todo mundo perto é muito importante para mim.
Site: Hoje, em Curitiba, quem mora com você?
Weverton: Moram comigo minha mãe e cinco sobrinhos. Brincam se eles não têm pais. Mas eles gostam de estar perto de mim e da minha mãe. É uma oportunidade para eles terem um futuro melhor, em relação a escolas e ao conhecer pessoas diferentes. Eles 'dão trabalho', mas tem valido a pena, porque o ensino aqui é muito bom. O carinho e o amor que eles têm por mim compensa qualquer dor de cabeça que dão, principalmente na escola.
Site: E quando está de férias no Acre, o que você mais gosta de fazer?
Weverton: Basicamente, é o que faço aqui em Curitiba. Gosto de estar com a minha família. Procuro ficar em casa, porque a família é grande. Não viajo muito, porque tem muita gente para eu ver e conversar. Então, gosto de dar atenção para todos.
Site: Quando você veio para o Atlético Paranaense, trocou a chance de disputar a Primeira Divisão com a Portuguesa para jogar novamente a Série B. O que te fez tomar essa decisão?
Weverton: Quando eu tomei a decisão de vir para o Atlético, muita gente me questionou, porque eu viveria a Série B de novo. Muitos achavam que, por eu já ter passado por isso e conquistado o título com a Portuguesa, era a hora de eu desfrutar da Primeira Divisão. Lá eu não precisaria provar nada para ninguém. Mas eu sabia que era passageiro, porque o Atlético não é time de Série B. Quando eu estava decidindo, minha mãe me disse que estava preocupada comigo e leu para mim uma palavra de Jó, que Deus mandou ele pegar a família dele e ir, sem olhar para trás. E que eu deveria fazer isso, sem olhar para trás. Vir para cá e não me preocupar com as coisas. Minha mãe me deu a palavra que eu precisava ouvir, de confirmação, e que eu estava fazendo a coisa certa.
Site: E como é para você ser titular em um clube que é conhecido pela revelação de atletas e principalmente de goleiros?
Weverton: Sei que o Atlético Paranaense tem muitos bons goleiros e que ainda farão muito pelo clube. Não sei quantos anos vou ficar aqui, mas vou ficar o tempo que precisar para fazer minha história. O Atlético forma muitos goleiros bons. É uma escola de goleiros e de grandes jogadores, que terão muitas coisas boas na carreira. Para mim, isso tudo é gratificante.
Site: Você vive o seu melhor momento da carreira?
Weverton: Eu ainda vou viver o meu melhor momento. Mas, com certeza, este é o meu melhor momento até aqui. Cheguei com uma pequena desconfiança e dúvida das pessoas. Mas 2013 e 2014 foram anos completos, que pude provar meu valor e mostrar o que sou. Recebo recados, com a maior franqueza, de pessoas que falam que não acreditavam em mim quando cheguei, mas que hoje me dão os parabéns e reconhecem minha importância. É legal ver essa humildade dos torcedores e isso me faz feliz.
Site: Após a Copa do Mundo, muito se falou em renovação da Seleção Brasileira e muitos citaram o seu nome. Defender a Seleção ainda é um sonho?
Weverton: Com certeza é um dos meus objetivos. Além dos interesses do clube, que vêm em primeiro lugar, a Seleção para mim é um alvo e um sonho. Tenho trabalhado e planejado para que isso aconteça. Sei que o Brasil tem muitos goleiros bons e todos terão suas oportunidades na hora certa. Minha hora vai chegar e não vou reclamar enquanto isso não acontecer.
Site: Para finalizar, o que significa o Atlético Paranaense na sua carreira?
Weverton: Tudo o que eu sou hoje, tenho que agradecer ao Atlético. Muitas coisas que tenho de bom aconteceram aqui em Curitiba, desde o dia em que cheguei. Só tenho a agradecer ao Clube, porque sou muito feliz. Quando minha família vem aqui, é bem recebida e isso não tem preço. Sou muito feliz aqui e não me canso de falar isso. Meu pensamento é dar continuidade no trabalho e me firmar cada vez mais, ser uma referência para os jogadores e para os torcedores. Goleiro tem que ter identificação com o clube e confiança. Quero que todos olhem para o gol e tenham tranquilidade ao saber que tem uma pessoa ali que vai lutar até o fim pelo clube.
Fotos: Gustavo Oliveira e Mauricio Mano/Site Oficial