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Athetiba da Gripe completa 88 anos. Leia o relato da época!
Um jogo que marcou para sempre a identidade rubro-negra! Há 88 anos, no dia 21 de maio de 1933, o Athletico conquistou uma vitória épica sobre o Coritiba, na casa do rival. O triunfo por 2 a 1, obtido de forma heroica e diante de todas as adversidades, tornou-se uma lenda vermelha e preta e entrou para a história como o “Athletiba da Gripe”.
Para relembrar essa data, reproduzimos a seguir, na íntegra, o texto publicado pelo jornal “Diário da Tarde” no dia seguinte à partida. Apenas em alguns pontos a grafia da época foi atualizada, para facilitar o entendimento.
Confira esse registro fundamental da história do Athletico e do futebol paranaense!
A victória da “raça”!
Numa batalha tempestuosa e emocionante o Coritiba tomba ante a disposição e o sangue forte da gente rubro-negra
2 a 1 foi a contagem
Estava marcada a data para o primeiro encontro do campeonato curitibano de futebol. Athletico e Coritiba seriam os contendores.
Nos últimos dias da semana que passou o Athletico viu-se na contingência de pedir à Federação P. Desportos transferência do embate, em virtude de alguns de seus defensores terem adoecido.
A Federação concedia tal transferência, entretanto o Coritiba discordou e fez pé firme para que o embate fosse realizado. O Athletico nessa situação dispôs-se a entregar os pontos.
Mais alto entretanto, falou o sangue da brava pleiade de amadores rubro-negros. E incorporado, na sede do vencedor do Corinthians, o team de Falcine exigiu a realização da peleia. Jogariam de qualquer forma.
Confiante no valor da sua gente, o Athletico completou sua turma com elementos do quadro secundário, com o veterano Marreco, e outros, adoentados.
A recusa do Coritiba e os elementos enfermos dispostos a lutar, dispostos a vencer, foram um sopro de entusiasmo formidável na phalange athletica.
O Athletico foi ao campo de batalha. O enthusiasmo augmentou, o sangue ferveu em suas veias, com Marreco no esquadrão a fazer lembrar os grandiosos triunphos de 29 e 30, o quadro atirou-se à lucta sem tréguas, para noventa minutos depois entregar ao pavilhão rubro-negro de gloriosas tradições, os dois primeiros e mais valorosos pontos que conquistou no certamen de 33.
Assim se resume a arrancada estupenda de ontem do Club Athletico Paranaense frente à poderosa turma coritibana.
O campeonato de 1933, iniciou-se transformando o “Estádio Belfort Duarte” em teatro do maior acontecimento da tarde esportiva de ontem. O gramado do Coritiba F. C. apanhou ontem uma enorme assistência, que torceu a valer e o encontro transcorreu, todo ele, disputadíssimo.
Maior sensação causou o embate, dada a grande vitória do Athletico, que sem fazer alarde de sua forma infligiu a seu clássico antagonista uma derrota convincente.
O certame começou, assim, com um soberbo triunfo e uma grave derrota de um dos mais cotados candidatos ao título.
O Coritiba, sem dúvida, jamais podia fazer esperar de si um tão forte tropeço, mesmo porque o C. A. Paranaense, embora treinado, iria apresentar-se em campo desfalcado e com alguns de seus amadores adoentados.
Mas é preciso que se diga: o fracasso do quadro dos calções negros não foi o de um valor medíocre do qual se aproveitou seu adversário. Não. Foi o revés de um conjunto forte diante da potência e da energia rubro-negra.
Foi, pois, o Athletico que se impôs de uma maneira assustadora. O C. A. Paranaense jogou uma partida de mestre, na qual onze amadores mostraram o amor que consagram a seu clube.
Atacando e defendendo com maestria e ardor, mui justamente saíram de campo com os louros do triunfo. É um conjunto de grande moral e que sabe lutar com denodo e com sangue, frente a seus mais perigosos adversários.
Conquistou ontem um belíssimo triunfo.
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A partida, como todos os jogos disputados com tanto ardor e espírito antagônico, fez com que os jogadores ilimitassem a combatividade. Muitos foram os episódios de virilidade e quando a luta requereu esforços, os amadores aplicaram alguma violência.
Dos dois lados a nada se renunciou e mormente no segundo período, quando a sorte da luta ameaçou modificar-se, foi acidentada, esmaltada por lances violentos. Foi em suma um jogo renhidíssimo, disputado a ferro e fogo.
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O C. A. Paranaense a luta com um ardor inexplicável, bastante agressivo, e passados mais ou menos vinte minutos de jogo colheu o seu primeiro ponto, por intermédio de Raul, que aproveitou assim um passe de Mimi, após esse fintar Anjolillo e Pizzatto.
Os coritibanos então reagem e a luta assume proporções gigantescas. E os dois bandos organizam perigosas escaladas sendo desfeitas pelas defesas que atuam firmemente.
Depois de muita disputa o Coritiba consegue o tento de empate, através de um forte ataque organizado pelo centro. Levoratto, de posse da pelota, atira cruzado e Alberto tenta a defesa, mas é inútil, a bola vai às redes. Atiram-se com mais ardor à luta os contendores e Anjolillo comete falta próximo à área em Rosa. Marreco bate a falta com precisão e violência conquistando um gol belíssimo e o que garantiu a vitória para suas cores.
Terminou com o resultado de 2 a 1 a primeira fase. A segunda fase foi bem disputada, mas sem alteração no placard, findando então o encontro com o triunfo dos rapazes da camiseta rubro-negra por 2 a 1.
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Do quadro do C. A. Paranaense, Alberto foi uma barreira para os atacantes coritibanos, deixou-se vencer por uma bola indefensável, mas praticou defesas de sensação.
Zanetti foi um grande back e tirou dos pés de Levoratto duas bolas que eram dois pontos certos. O setor de mais equilíbrio e potencialidade foi a zaga Zanetti e Normando. Preciso atento e rápido, Normando foi um grande bacu e Zanetti, adoentado, superou a expectativa, esteve invulnerável, foi o melhor zagueiro em campo.
O médio de maior projecção foi Falcine, distribuiu com inteligência e precisão. Canoco e Cid foram trabalhadores infatigáveis. Mobilidade, inteligência e seguros no domínio do jogo.
A linha atacante esteve ótima. Levorattinho, que atuou por pouco tempo, não comprometeu. Naná esteve firme tanto na meia quanto na extrema. Produziu perigosas escaladas e arremata bem. Como meia esteve bem e como extremo foi maravilhoso.
A volta de Marreco ao seu quadro trouxe ânimo novo a sua equipe. Soube não só se destacar por seu jogo animado e incentivo e conquistou um tento de maneira impressionante.
Rosa foi excelente condutor de ataques. Bom carregador, penetrava constantemente na defesa coritibana, causando sérias confusões. Mimi, no primeiro tempo, foi assombroso. Bom atirador, finta com maestria e para com bastante técnica. Firmino, bem marcado, produziu pouco, mas não comprometeu.
Dos coritibanos, o triângulo defensivo teve um apreciável desempenho. Esmanhotto não teve ocasiões de demonstrar a sua classe. Pizzatto, como sempre, foi uma barreira difícil de ser transposta. Foi o melhor homem de sua equipe. Anjolillo agiu discretamente.
Dos médios coritibanos, poderemos dizer que somente Contim atuou regularmente. Ninho, com suas fintas enervantes, prejudicou em grande parte a equipe. Guarany foi muito esforçado. Na vanguarda coritibana, Emílio, no centro, foi pouco efetivo. Abusa muito do jogo pessoal, o que concorreu para atrasar a linha.
Erico cavou muito, mas bem marcado por Canoco pouco fez. E Laudelino agiu a contento, produzindo ótimos centros. O melhor da vanguarda foi Levoratto, um grande valor isolado e bom chutador. Pizzatinho agiu discretamente. Cuka entrou quase no final do encontro e não pode desenvolver atuação destacada.
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Os quadros apresentaram-se assim organizados:
C. A. Paranaense: Alberto, Zanetti e Normando; Canoco, Falcine e Cid; Levorattinho (Naná), Marreco, Raul Rosa, Mimi e Firmino.
Coritiba: Esmanhotto; Anjolillo e Pizzatto; Guarany, Ninho e Contim; Laudelino (Cuka), Levoratto, Emílio, Pizzatinho e Erico.
Athayde, do Palestra Itália, foi o árbitro. Logo após o início, começou a marcar faltas com justiça e o público viu nele um juiz imparcial. Foi um árbitro enérgico e preciso. Esteve ótimo.
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A partida preliminar, travada entre os esquadrões secundários, transcorreu renhidíssima e foi vencida pelo C. A. Paranaense por 2 a 1.
Foi seu árbitro o sr. Ubirajara Lima, do C. A. Ferroviário.
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